Poções (BA) e o desafio do turismo: entre a falta de infraestrutura e a sombra de Vitória da Conquista
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A cidade de Poções, localizada no sudoeste da Bahia, é conhecida por sua posição geográfica estratégica, por suas festas tradicionais e por ser um ponto de passagem importante entre diversas regiões do estado. No entanto, apesar de possuir um enorme potencial turístico e econômico, Poções enfrenta problemas que limitam seu desenvolvimento, especialmente no que diz respeito à infraestrutura urbana e ao aproveitamento do fluxo turístico que passa pela região.
Entre os principais entraves, destacam-se a falta de uma rodoviária adequada, a dependência econômica e turística de Vitória da Conquista, e o alto custo da hospedagem local, fatores que juntos acabam afastando visitantes e enfraquecendo o comércio local.
A ausência de uma rodoviária moderna: um entrave à mobilidade e ao turismo
Um dos problemas mais sentidos pela população e pelos visitantes é a situação precária da rodoviária de Poções. O terminal atual, pequeno e mal estruturado, não comporta o volume de passageiros que transitam pela cidade diariamente. Além disso, carece de serviços básicos como salas de espera confortáveis, sanitários adequados, guichês organizados e sinalização clara.
Para uma cidade que está às margens da BR-116, uma das rodovias mais importantes do Brasil, essa deficiência é especialmente grave. A BR-116 liga o Nordeste ao Sudeste e é rota constante de turistas, caminhoneiros e viajantes que poderiam movimentar a economia local se houvesse um espaço adequado para embarque, desembarque e permanência.
A falta de uma rodoviária moderna também impacta a imagem da cidade. Muitos visitantes que passam por Poções têm como primeira impressão esse terminal improvisado e desorganizado, o que acaba reforçando uma percepção negativa sobre o município. O turista que chega em um ambiente desconfortável e sem informações dificilmente se sente incentivado a permanecer ou explorar os atrativos locais.
A proximidade com Vitória da Conquista: oportunidade ou dependência?
Poções está localizada a cerca de 60 quilômetros de Vitória da Conquista, terceira maior cidade da Bahia e polo econômico e educacional de toda a região sudoeste. Essa proximidade, embora geograficamente vantajosa, acaba sendo um fator que concentra o desenvolvimento e o turismo em Conquista, deixando Poções em segundo plano.
Vitória da Conquista possui uma infraestrutura urbana muito mais desenvolvida, com hotéis, shoppings, aeroporto, restaurantes e eventos de grande porte, como o Festival de Inverno — que atrai turistas de todo o país. Por consequência, a maior parte da receita gerada pelo turismo regional fica concentrada lá.
Enquanto isso, Poções, que tem atrativos próprios — como as festas de São João, a Barragem de Poções, a Feira Livre e o tradicional Carnaval fora de época, o Poções Folia —, enfrenta dificuldades para reter o turista. Muitos visitantes preferem se hospedar em Vitória da Conquista e apenas passar por Poções durante o dia, o que reduz o impacto econômico positivo que o turismo poderia trazer para a cidade.
O alto custo da hospedagem em Poções: um paradoxo que afasta turistas
Um fator curioso e problemático é que, apesar de Poções ser uma cidade menor, os preços de hospedagem costumam ser mais altos que em Vitória da Conquista. Esse paradoxo se explica pela baixa oferta de hotéis e pousadas, que, com poucos concorrentes, mantêm tarifas elevadas.
Para o turista que compara preços e infraestrutura, a escolha é quase automática: é mais vantajoso hospedar-se em Vitória da Conquista, onde há mais opções, melhor qualidade e custos menores. Em um contexto em que o visitante busca conforto e economia, Poções acaba perdendo espaço mesmo para quem vem especificamente participar de eventos locais.
Essa realidade cria um círculo vicioso: o turismo não se desenvolve porque a hospedagem é cara e limitada, e os empresários locais não investem porque o número de turistas é baixo. Sem uma política pública clara de incentivo ao turismo e à hotelaria, a cidade permanece estagnada.
Impactos econômicos e sociais
A consequência dessa combinação — infraestrutura deficiente, concentração econômica em Vitória da Conquista e hospedagem cara — é a fuga de receitas que poderiam permanecer em Poções. Restaurantes, comércios e pequenos empreendedores locais deixam de lucrar com o turismo, e a cidade perde oportunidades de geração de emprego e renda.
Além disso, a ausência de um terminal rodoviário adequado prejudica a mobilidade da própria população, especialmente aqueles que dependem do transporte intermunicipal para trabalhar, estudar ou acessar serviços em outras cidades. Trata-se de uma questão que ultrapassa o turismo e afeta diretamente a qualidade de vida dos poçoenses.
Caminhos possíveis para o desenvolvimento
Poções precisa de um projeto estruturante de turismo e mobilidade que leve em conta sua posição estratégica e sua vocação natural para o comércio e o trânsito de pessoas.
Algumas medidas importantes seriam:
Construção de uma nova rodoviária, moderna, bem localizada e integrada ao sistema de transporte urbano.
Incentivos fiscais e parcerias público-privadas para atrair novos empreendimentos hoteleiros.
Promoção dos eventos locais com campanhas regionais e estaduais, para aumentar o fluxo de visitantes.
Criação de uma rota turística regional que integre Poções e Vitória da Conquista de forma colaborativa, e não competitiva.
Melhoria da infraestrutura urbana, especialmente nas áreas de acesso, iluminação e sinalização turística.
Conclusão
Poções tem potencial para ser muito mais do que uma cidade de passagem. Sua localização privilegiada, seu povo acolhedor e suas tradições culturais poderiam transformá-la em um destino turístico relevante do interior baiano. No entanto, enquanto persistirem problemas estruturais — como a falta de uma rodoviária adequada, a dependência econômica de Vitória da Conquista e o alto custo de hospedagem —, a cidade continuará perdendo espaço e oportunidades.
Investir em infraestrutura e planejamento turístico não é apenas uma questão estética ou econômica: é uma forma de valorizar a identidade local
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